sexta-feira, 22 de julho de 2011

Walker - Capítulo um.

Senti meu celular vibrando.
- Alô?
- Oi Artie, é a Sidney. Vem em casa? Queria falar com você.
- Vou aí.
O que separa a minha casa da dela é a rua. Não sei por que ela não atravessa a rua pra falar comigo, realmente a preguiça domina.
- Sidney.
- ENTRA!
Ela e o Ryan estavam tomando sol na piscina.
- Oi Ryan.
- Oi Art.
- O que vocês querem comigo?
- Vocês não. A Sidney.
- Fala Sidney.
- Senta aí - sentei. Sabe a Liah?
Pra vocês não se perderem na história, Liah é irmã da Lanna. Batalhadora, ela viaja todo dia pra estudar em outra cidade, por ser a única escola na região a ter ballet e aula de dança. Ela é morena, com um corpo perfeito e hipnotiza qualquer um quando começa a dançar. Seu cabelo é preto, com a parte de trás rosa, e liso, e um pouco mais curto que o da Lanna. Até onde eu sabia, ela é hétero e namorava um menino da cidade que ela estuda.
- Sei, o que tem ela?
- Me apaixonei por ela.
- O que? Você é doida Sidney? A menina é hétero!
- Não não. Ontem eu fui numa apresentação dela com a Lanna, e depois, no coquetel. Ela começou a jogar indiretas pra mim, não pude resistir. Peguei o número do celular dela, e liguei depois. Passei a madrugada conversando. Sábado a gente fica.
- Você é doida Sidney? A Lanna vai te matar!
- Primeiro, para de me chamar de doida. Segundo, a Lanna não vai saber, porque vocês não vão contar. É nosso segredo. OK Ryan?
- Ok.
- OK Artie?
- A Lanna vai matar a gente quando descobrir.
- Ela não vai descobrir.
- E se descobrir?
- A culpa vai ser só minha. E aí?
- Tá, eu não vou contar.
- Isso aí.
- Já vou embora.
- Por quê?
- Tenho que escrever mais dois capítulos do livro.
- Ah sim, passa aqui à noite.
- Passo sim. Pra onde vamos?
- Pra Lua.
- Tá - risos. Tchau Ryan.
- Tchau Art.
Não disfarcei o choque com o qual saí de lá. Minha amiga vai ficar com a irmã 'hétero' da minha outra amiga, e eu tenho que fingir que não sei de nada. Nessa história, não sei que cara-de-pau é a maior.

Anoiteceu. Saí pra passar na casa da Sidney, e a Lanna já estava lá na frente.
- Amei sua camisa dos Strokes Lanna.
- Valeu Art.
- Pra onde Vamos?
- Estou esperando o Ryan e a Sidney sair pra gente decidir. A Chay não vai?
- Não, ela está doente.
- Hum.
Os dois saíram.
- E ae galera, vamos pra night?
- vamos Sidney.
Passamos na conveniência e compramos 16 litros de vinho e 4 carteiras de cigarro. Fomos beber numa praça.
- Vamos beber isso tudo Sidney?
- Claro Ryan, 4 litros pra cada um. Fizemos a conta certinha.
- Ah sim. E uma carteira de cigarros pra cada um?
- Eita menino esperto.
Depois dos meus primeiros 2 litros, eu já nem lembrava quem era. Só sei que a Lanna estava encima da estátua da praça. E a cidade foi batizada com o nome de Santo Ágato, por causa daquela estátua.
- Me dá um beijo Ágato?
- Para de ser boba Lanna.
- Mas fala Ryan, ele não é gatinho?
- Não Lanna, isso é uma estátua velha de um homem velho e santo.
- Upa cavalinho!
- Desce daí Lanna.
- Deixa meu cavalinho. Ele não é lindo?
Só ouvi um estrondo.
- O que foi isso?
- A Lanna derrubou a estátua!
- Jesus!
- CORRE CORRE CORRE!
- Levanta a Lanna.
- CORRE!
Depois da gente parecendo um cavalaria paramos umas 10 quadras pra baixo.
- Ai tou morto. Não estou conseguindo respirar.
- Calma, respira Ryan.
- E você Lanna?
- Você tá bem Lanna?
- Só um pouco arranhadinha, mas está tudo bem. E o Ágato, o que a gente faz Sidney?
- Nada. Ninguém precisa saber que foi você. Pacto?
- PACTO! - todos falaram juntos.
Fomos pra outra praça, terminar de beber os 7 litros que restavam. E após beber tudo fui embora carregado pelo Ryan e pela Sidney, que me deixaram na minha calçada. Dormi por lá mesmo.

-
Chuáá.
- Aiiii! Quem jogou água?!
- Só assim pra você acordar. Acha bonito dormir bêbado, na calçada de casa moleque?
- Calma mãe, eu não estava bêbado. Só com preguiça de entrar.
- Não estava bêbado? Entre agora, ou vou jogar todas suas roupas no meio da rua.
- Já entendi. Já estou entrando.
Enquanto me secava, ouvi a vizinha conversando com minha mãe.
- Mas Ruth, acredita que a Sônia derrubou o Santo Ágato?
- Ela é louca?
- Estão dizendo que enlouqueceu depois da morte do marido.
- Sabia que iria acontecer isso. Meu Deus e agora?
- E agora, que ela perdeu o emprego e talvez vai perder a guarda da filha.
- Nossa, nisso que dá usar drogas, uma mulher daquela idade, devia se dar ao respeito.
Entrei correndo e liguei pra Lanna.
- Lanna?
- Oi.
- Que voz é essa?
- Ressaca!
- Lembra o que você fez ontem?
- Aham, o que tem?
- Uma mulher chamada Sônia levou a culpa, parece que ela estava drogada e a culparam.
- E?
- Você vai deixar uma pessoa inocente levar sua culpa?
- Inocente? Se ela estava lá drogada, ela não é tão inocente assim.
- Mesmo assim, ela perdeu o emprego e vai perder a guarda da filha.
- E? Você fez um pacto, num vai querer quebrá-lo né?
- Não. Não vou quebrá-lo.
- Você sabe que meu pai me mataria se descobrisse.
- Eu sei.
- Então promete que não vai falar nada? - Silêncio. Promete?
- Prometo.
- Agora posso voltar a dormir?
- Pode.
- Depois eu vou aí, quando acordar.
- Tá.
Senti um beijo no pescoço.
- Oi amor.
- Oi Chay.
- Porque você está com essa cara?
- Nada.
- Nada?
- Problemas da Lanna.
- Huum.
- Vamos deitar um pouco?
- Vamos.
Acabei acordando sozinho e com o barulho do interfone.
- Oi.
- Sai daí Artie.
- Tá Sidney.
Vesti uma roupa e saí.
- Oi Sidney?
- A cidade inteira tá dizendo que a Sônia quebrou a estátua.
- Eu sei.
- E a Lanna me contou que você ligou pra ela.
- E?
- Eu não acredito que você pensou em quebrar nosso pacto por causa de uma louca qualquer.
- Louca, porém um ser humano.
- Sabe por que você nunca vai lançar um livro?
- Não.
- Por que você é bonzinho demais e na vida às vezes é preciso ser um pouco malvado pra se conseguir o que quer, sabia?
- Eu não penso assim.
- Então fica com a sua bondade, e soca ela no rabo. Vamos ver aonde você chega com ela.
Ela virou as costas e saiu. Comecei a chorar desesperadamente, e corri pro meu quarto.
Minha mãe quis saber o que havia acontecido.
- O que foi Artie?
- A Sidney falou que eu nunca vou escrever um livro.
- Graças a Deus, alguém que pensa como eu. Ouve ela, você nunca vai escrever nada.
- Sai do meu quarto!
- Eu que mando nessa casa e não vou sair. E você tem que encarar os fatos. Você acha que é fácil ser escritor? Você não escreve nem cartas!
- Você já leu alguma coisa que escrevo? - o choro já atropelava minhas palavras. Já leu?
- Nunca li e nunca vou ler, porque não tenho paciência pra poemas infantis - eu chorava desesperadamente. - Agora vá dormir e pense melhor na sua vida.
Ela saiu do quarto e então sussurrei.
- Eu já sei, e sempre soube.

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